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Cada obra me leva a um universo de descobertas sobre mim ...

A cada fim de um processo de criação, a primeira coisa a se pensar é o amadurecer dessa obra, deixar ele mais palpável ao corpo e aos olhos, amadurecer a interpretação, assim o público pode olhar e se identificar através de imagens e sensações, ou se questionar sobre o que se vê, ou apenas torná-la uma referência imagética. Amadurecer a conexão entre os intérpretes, observar o que precisa ser ajustado, deixar a obra "redonda", fluida, e suas conexões plausíveis ou não, dependendo do que se quer propor.

O próximo passo é não acomodar, a obra não é a mesma se não for sentida, e sempre tem algo a melhorar, alterações deixam em estado de alerta, a preocupação vem e a consciência se torna presente. E estar consciente dá a percepção das texturas, cores, intesidades e quem se é dentro dessa obra.

Após o nascimento e o crescimento dela, vem a seguinte questão: qual será a próxima obra? Sim, é o que se passa em minha cabeça, é um desafio que me proponho, me sinto em ação, entrando em um mundo que desbravo a mim como criadora - intéprete e o que eu preciso conhecer para esse trabalho acontecer, e estar numa mata desconhecida é não saber o que eu vou achar hoje e o que vai resultar amanhã.​

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As obras as quais fiz e faço parte, são de grande experiências e trocas. Estou sempre imerjida no processo, gerando opiniões, manifestando ideias de criação e inquientações, assim me sinto pertencente para ter propriedade do que estou criando e colaborando físico e intelectualmente.

Toda obra que colaborei é minha também, pois está ali uma dedicação de tempo, criatividade, escuta, estudo e principalmente as pesquisas de movimento para aquele trabalho ser único, vai além das formalidades burocráticas.

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O que me deixa a vontade e interessada pelo processo criativo é o tempo e a paciência, são duas coisas que são essenciais para uma obra ser pensada o mais detalhadamente possível. Não sabemos como vai surgir, mas vai sair alguma coisa, e como lhe damos com isso é o mais incrível. Sabemos quando algo é pensado, quando tem confiança e propósito, um simples gesto, uma simples presença transpira intenção. Maioria das obras de grande produção que estive, demandaram de 6 meses há 1 ano de criação, com ensaios de 5h há 8h de duração por dia. Óbvio que nem toda obra precisa desse tempo, existem algumas que pela certeza do que se quer transmitir, já nasce pronta. O questionamento é como será transmitido essa proposta, com corpos ou objetos, o som ou sem som, se o espaço tem suas especificidades e etc.

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Atualmente exigem pressa para apresentar um trabalho e percebo uma certa desvalorização do processo criativo. Processos exigem pensar, pesquisar, refletir, debater, ler, ouvir. A pressa de mostrar resultado hoje se tornou prioridade, causando até uma certa atrofiação. O questionamento parece algo banal para alguns, falar sobre o processo é cansativo para outros e buscar referências se tornou preguiçoso, pois a pequena tela em nossas mãos carregadas de informações virou uma arma apontada na sua cara trazendo comparações e frustrações. A pesquisa "gasta" tempo. Se tudo isso virou algo desnecessário, qual caminho percorrer para um trabalho único? Sem perder a identidade? Não ser uma cópia de algo já existente? Claro que sabemos das inspirações para criações de outras obras, mas é o bom olhar que faz-se o bom uso dessas ferramentas que vira uma contribuição essencial de novos estímulos para o novo que vai nascer. Qual caminho você percorre? Você rouba sem fazer boa utilização dessas ferramentas? Esse processo do pensar se tornou debilitado com uma bomba de informação diária na sua mão?

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Exige refletir, exige pensar no que se é o que não é. Exige saber o que você tem e o que não tem. Se dispor e se libertar do que eu e você não sabemos, mas saber utilizar das ferramentas que aos poucos vão surgindo, se tornando uma mala de alegrias, experiêcia, do que se viveu num período em que exigiu você estar presente.

Foto: Marly Montoni, Lucas Andrade, Silvia Kamyla e Novíssimo Edgar.

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